A pandemia vem fomentando movimentos que estão transformando o mundo. E um deles é a importância do propósito das organizações.
É cada vez mais incontestável a noção de que, bem mais além do que propiciar resultados financeiros para os acionistas, uma empresa tem que gerar valor para a sociedade. E isso tem tudo a ver com o propósito: qual o benefício que essa companhia proporciona local e globalmente?
Importante destacar que, aqui, não se fala apenas de produtos e serviços, embora estes sejam fundamentais para comunicar esses valores. Mas especialmente da atuação de uma empresa para melhorar o mundo.
A Ambev, por exemplo, tem um programa de estágio voltado para estudantes negros, com oportunidades para diversas cidades do Brasil, nas áreas de vendas, nas cervejarias e no centro de serviços compartilhados. A iniciativa mostra uma clara intenção inclusiva ao não exigir experiência profissional prévia nem de conhecimento de inglês. Os aprovados, inclusive, terão curso de inglês pago pela própria Ambev, além do já tradicional programa de mentoria com executivos da companhia de bebidas.
Outro exemplo mais recente é o da Magazine Luiza. A gigante do varejo abriu as inscrições para seu programa de trainees de 2021 com uma proposta engajada: irá aceitar apenas candidatos negros.
“O objetivo do Magalu com o programa é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional”, diz a varejista.
Este autor teve a oportunidade de conversar recentemente com Luiza Trajano em um Webinar da Rede Integração. “Empatia é o que mais precisa”, disse a empresária.
Essa palavrinha mágica, que basicamente significa a capacidade de colocar-se no lugar de outra pessoa, é uma boa receita para a mudança de um Brasil tão litigioso nos últimos tempos.
É um dado novo e admirável a interlocução entre empresas que reconhecem a necessidade de dar um passo adiante, de um lado; e de gente que tem experiência de vida em comunidades de baixa renda e a faculdade de estabelecer esse elo de um modo absolutamente inovador.
Foi muito legal acompanhar o diálogo no evento Global Retail Show, organizado por Marcos Gouvêa, entre o CEO e acionista do Itaú Unibanco, Cândido Bracher, e a fundadora e CEO da Gestão Kairós, Liliane Rocha.
Ele, um dos empresários mais bem sucedidos do País; ela, mestre em Gestão de Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, que presta consultoria a empresas como a já citada Ambev, a Gerdau, a PayPal, a Centauro e a Ricardo Eletro.
Ao responder a uma pergunta de Bracher sobre como o Itaú poderia avançar na questão da diversidade, sem comprometer a meritocracia, Liliane explicou que o que faz a diferença é empregar a mesma metodologia destinada ao core business. Ou seja, adotar métodos de gestão, de forma profissionalizada, sem recorrer exclusivamente a comitês de voluntários.
Segundo ela, criar políticas de diversidade não tem nada a ver com dispensar pessoas brancas para contratar pessoas negras, mas, sim, fixar metas de admissão em vários níveis hierárquicos conforme os níveis médios de turn over. É um plano estratégico passo a passo, não só na questão racial, mas também de gênero, que criará empresas com mais oportunidades. Uma empresa inclusiva.
E, mais além da humanidade, abraçar a diversidade é positiva para os negócios, sobretudo em uma economia criativa.
Em 2018, um estudo da McKinsey & Company, com o título “Delivering through Diversity“, reafirmou a relevância vínculo entre diversidade e um elevado desempenho financeiro da empresa. E a diversidade, no estudo da McKinsey, considera não só o mix étnico e cultural, mas uma proporção maior de mulheres na liderança de grandes empresas globais.
O estudo reforça a descoberta de 2014, apontando uma probabilidade de 33% de desempenho superior na margem EBIT (“Earnings Before Interest and Taxes”) de empresas que adotam a diversidade. São número para os departamentos de Recursos Humanos e as elevadas administrações terem em mente, especialmente para a construção de ambiente mais inovadores e disruptivos.
A sociedade, em nível global, está puxando esse movimento, inclusive nos mercados de capitais com a criação de fundos ESG, com as exigências ambientais e sociais na ordem do dia para avaliar empresas com governança e práticas saudáveis. Na Rede Integração, temos nos dedicado a esse exercício: reavaliar, ressignificar e criar desafios alinhados ao propósito.
O recado é claro: empatia é uma atividade diária que, mais além da boa-vontade, demanda compromisso e gestão.
Afinal, é inócuo ter propósito sem execução.