Segundo CEO da Rede Integração, Senado deve assumir protagonismo para retomada da economia
Por Bússola
Em Uberlândia, os alunos da rede pública municipal podem assistir aulas à distância pela televisão durante a pandemia. Em parceria com a prefeitura da cidade, a TV Integração, afiliada da TV Globo na cidade, lançou um canal de TV com 13h de programação de videoaulas para os estudantes.
A Bússola conversou com o CEO do Grupo Integração, Rogério Nery de Siqueira Silva, também ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais (2014). Segundo ele, o Senado Federal tem a oportunidade de assumir a liderança de uma agenda positiva para criar medidas que ativem uma retomada da economia.
O grupo conta com outras cinco emissoras de TV que atingem mais de 6 milhões de pessoas em mais de 200 cidades, inclusive Uberlândia, Araxá e Juiz de Fora. Veja a íntegra da conversa. Bússola: Como surgiu esse projeto “Escola em Casa”?
Rogério Nery de Siqueira Silva: É uma iniciativa inédita em Minas Gerais. O projeto, estruturado com a Secretaria de Educação, consiste em um canal aberto de televisão criado especialmente para a educação municipal, com programação diária das 7h às 22h. Diariamente, são disponibilizadas nove videoaulas inéditas. À noite também há aulas para alfabetização de alunos. O sinal entrou no ar na segunda semana de maio.
Desenvolvemos o projeto depois de vencer uma concorrência pública da prefeitura, que buscava solução para cumprir o calendário letivo após uma liminar, ainda em fevereiro, que vedava as aulas presenciais, em função da pandemia.
Trata-se de uma iniciativa temporária, até porque o ideal é mesmo que a situação sanitária melhore, viabilizando as aulas presenciais. Mas essa experiência pode ser um estudo de caso interessante para o futuro, que prenuncia um modelo de educação híbrida. A TV poderá ajudar em um processo de universalização.
Bússola: De que modo isso afetou o negócio da Rede Integração? Rogério Nery de Siqueira Silva: A pandemia chegou em março de 2020 como um tsunami. Houve pouquíssimo tempo para se preparar. Mesmo com a liderança de mercado, fomos afetados e sentimos impacto nas receitas nos meses iniciais. Mas demos todo o suporte ao time comercial, que buscou reinventar-se, criando novos produtos.
Com as necessárias medidas de distanciamento, a TV Globo paralisou muitas gravações e quebrou um tabu, com reprise de programação, o que antes só ocorria com o “Vale a Pena Ver de Novo”. As afiliadas tiveram uma ampliação de seu tempo de programação própria, com o desafio e a oportunidade de geração de mais conteúdo.
Inovamos ocupando a grade com conteúdo local, inclusive de entretenimento. Algo que é mais complexo no interior.
Isso nos permitiu manter o padrão de qualidade da programação e, principalmente do jornalismo, que em tempos de pandemia tem uma responsabilidade ainda maior. Investimos em muita prestação de serviço para combater fake news e proporcionar ao público informações claras e de fontes confiáveis.
Fortalecemos nossa relação com os anunciantes locais, oferecendo soluções de mídia sob medida. Conseguimos estabilizar, até mesmo porque em situações de crise os anunciantes precisam gerar demanda.
Mas é certo que a situação só irá melhorar de forma sustentável com medidas que estimulem uma retomada da economia.
Bússola: Que medidas seriam essas?
Rogério Nery de Siqueira Silva: Todos adorariam ter a fórmula mágica. Na minha visão, ainda que o foco esteja em examinar a fundo todas as questões inerentes à gestão da pandemia, o Senado Federal tem a oportunidade de assumir a liderança de uma agenda positiva.
É possível fazer. Um exemplo é Minas Gerais. O Estado tem encontrado soluções interessantes para estimular o crescimento econômico, com medidas de atração de investimentos que levaram para o Estado empresas como Grupo Petrópolis, Amazon, Mercado Livre e Heineken.
O setor público já não tem mais capacidade de botar recursos. Sua prioridade de investimento deve estar na saúde pública. O melhor é chamar a iniciativa privada, que tem capacidade de execução e mais agilidade. O setor público pode ajudar com melhorias normativas que desburocratizem a atividade produtiva e uma regulação técnica.
É preciso senso de urgência. Temos sete anos seguidos de crescimento baixo ou de recessão. E de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de desempregados no Brasil já chega a 14,4 milhões. Sem contar os desalentados. Outro dado relevante: uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada em 2018, revelou que 23% dos jovens brasileiros entre 15 e 24 anos não trabalhavam e nem estudavam (os chamados nem-nem). É legítimo imaginar que a situação tenha piorado durante a pandemia. E isso é muito grave para a competitividade do país.
Há oportunidades imensas – Uberlândia, mesmo sendo uma das 30 maiores cidades do Brasil, não tem acesso, por exemplo, a utilities como o gás natural simplesmente porque não há gasodutos nessa região do interior. Assim como Brasília também não. É apenas um exemplo do que poderia ser feito com um plano mais estratégico para impulsionar o país.
*Publicado originalmente em 17/05/2021 na Bússola (Exame) | TV de Uberlândia transmite aulas para rede municipal durante a pandemia | Exame