Desde que Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome do Facebook para Meta, as discussões sobre o metaverso ganharam nova proporção. Neste novo mundo virtual, através dos avatares, as pessoas poderão não só jogar ou se divertir, mas também trabalhar, estudar e fazer compras. Grande aposta das gigantes de tecnologia, o metaverso pode vir a revolucionar a forma como nos comunicamos e consumimos. Mas, como um ambiente com muitas lacunas, ele traz muito mais questões do que certezas neste momento.
De olho nessas tendências, marcas já começam a abrir lojas no metaverso ou a desenvolver produtos para serem consumidos nesse território. Artistas como o DJ David Guetta, o rapper Young Thug e The Chainsmokers já fizeram apresentações nesse ambiente – mas o público ainda foi pequeno. O cantor Justin Bieber já prometeu que fará show no metaverso e outra gigante pop, Ariana Grande, já atraiu uma multidão virtual para um concerto no game Fortnite.
No universo da televisão, já há uma experiência feita pela FOX com avatares – em uma tentativa de antecipar como pode vir a ser essa área do entretenimento no metaverso. No reality “Alter Ego”, os competidores têm a oportunidade de se apresentar com um avatar que eles mesmos criam. Os artistas ficam nos bastidores e dão voz e movimento, através de uma série de elementos tecnológicos, ao avatar que se apresenta no palco. Um dos jurados do programa, o cantor will.i.am disse que esse formato vai revolucionar o mundo do entretenimento e um dos executivos da FOX já afirmou que esse é um dos investimentos mais ambiciosos da companhia.
No mundo do consumo, marcas de luxo já apostam suas fichas em lojas no metaverso ou no lançamento de produtos. A Nike, por exemplo, já criou a Nikeland dentro do jogo Roblox e adquiriu uma empresa especializada na criação de tênis e outros produtos digitais. Ainda dentro do Roblox, a Ralph Lauren criou um espaço chamado Winter Scape, que alia a experiência virtual de patinação no gelo e possibilidade de compra de produtos da marca confeccionados nos anos 90.
A aposta das gigantes da tecnologia é de que, em alguns anos, o metaverso será tão comum em nossas vidas quanto a internet. Com o apoio de dispositivos digitais, como óculos de realidade, será possível entrar com o avatar em um ambiente corporativo e trabalhar em tempo real. E as empresas estão investindo alto no desenvolvimento da inteligência artificial.
Como um executivo do universo da televisão, acredito que as tecnologias devam ser usadas como nossas aliadas. E sou um grande entusiasta das inovações – tanto é que a TV Integração é pioneira no uso de diversas ferramentas que ampliam a qualidade da programação.
Acredito, portanto, que o metaverso logo vá provocar uma grande revolução, mas é preciso também uma dose de cautela. Ainda não ficou claro como se darão os limites nesse ambiente e quais são as regras.
Uma preocupação, como sempre, é a questão regulatória – fundamental para garantir maior segurança jurídica na aplicação dessa tecnologia no Brasil. Existirá uma legislação específica para esse novo campo? Ou serão aplicadas a leis já vigentes com adaptações?
São questões legítimas — uma vez que a produção de conteúdo em TV é fortemente regulada – seja por classificações indicativas, seja por mensagens que envolvam a publicidade de alimentos e bebidas, seja por direitos autorais, apenas para ficar em três exemplos.
Outras perguntas relevantes, sobre as quais não temos resposta, é como se dá a segurança dessas plataformas, e se esse modelo de negócios é sustentável ao longo do tempo.
Algumas dessas preocupações já estão no radar da Meta, que anunciou uma função chamada de “personal boundary” após denúncias de assédio. Ela limita a aproximação entre avatares e tem como objetivo evitar contatos indesejados. Assim como essa questão, que é um problema sério a ser enfrentado no mundo real, muitas outras irão surgir no metaverso e, por mais que a tecnologia ande rápido, há fatores na interação que precisam de muito mais que ferramentas virtuais para serem desenvolvidas da maneira correta.
Nosso papel é contribuir para esse debate, sempre com o intuito de desenvolver novas formas de comunicar com o público.
Publicado originalmente na Exame/Bússola em 15/02/2022.