O Brasil precisa urgentemente de uma política industrial, capaz de gerar renda e empregos de qualidade, e que habilite as empresas brasileiras para competir em um cenário internacional que já vivencia a chamada quarta Revolução Industrial.
Marcada pela volatilidade da demanda, essa era vem levando o setor produtivo a um novo patamar de exigência — mais estratégico, inteligente e tecnológico. Na disputa por consumidores, a indústria investe em inovação, otimiza processos, flexibiliza as linhas de produção e encurta o ciclo de vida dos produtos.
Para sobreviver, a receita passa pela transformação digital e conceitos que antes as empresas desconheciam: internet das coisas, robótica, cloud computing e big data analytics — estruturas de dados extensas e complexas que usam novas abordagens para a captura, análise e gerenciamento de informações relevantes.
Não se trata tão somente de tecnologia. Tudo está relacionado a pessoas. De um lado os profissionais da Indústria 4.0 terão que se manter cada vez mais informados e qualificados; de outro, surgem novas oportunidades de emprego: gestor da flexibilidade, trouble-shooter (especialista em solucionar problemas), avaliador de qualidade e desenvolvedor independente, entre outras. Em paralelo, com o avanço desse modelo, eliminam-se vagas obsoletas, monótonas ou que envolvam operações manuais e de grande exigência física.
Uma simples observação de campo em território alemão, onde estive este ano, é suficiente para deixar qualquer brasileiro preocupado. Um dos países mais adiantados nessa agenda, a Alemanha mantém um consistente programa governamental de inovação e, não por acaso, o termo “Indústria 4.0”, aliás, foi usado pela primeira vez na Feira de Hannover, em 2011.
Do lado de cá, nossa indústria tem encolhido, especialmente a de transformação, que viu sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) cair de 46,3% em 1989 para 22% em 2018, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Isso impõe um plano estratégico. São necessárias medidas de curto, médio e longo prazo para que a indústria brasileira tenha plenas condições de competir no mercado interno e externo. Muito além de tecnologia é indispensável desenvolver gente com novas habilidades, técnicas e competências.
O maior obstáculo talvez esteja nas Pequenas e Médias Empresas (PMEs). Depois de anos de recessão, essas empresas, que representam 98,5% das companhias existentes no País, vêm, em grande parte, vendendo o almoço para comprar o jantar. Naturalmente elas têm mais dificuldades em aplicar os conceitos da Indústria 4.0. A mudança só será possível com um programa estruturado de formação, atualização e estímulos.
Assim como na Alemanha, esse desafio de transformação é coletivo — não apenas da indústria. O Brasil não pode perder tempo. Precisa adotar uma estratégia integrada, criando linhas de financiamento em bancos de desenvolvimento (BNDES e regionais) e outras políticas capazes de levar a sociedade para esse novo ciclo de desenvolvimento.
Os desafios são imensos. É essencial criar uma estratégia que promova a inovação, buscando uma integração de esforço entre os governos federal e estaduais, as universidades, instituições de pesquisa, sociedade civil e as instituições de classes. É um jogo em que todos têm a ganhar.
Rogério Nery de Siqueira Silva é CEO do Grupo Integração (afiliada da TV Globo no Triângulo Mineiro) e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de Minas Gerais
*Artigo originalmente publicado em 06.03.2020, no portal Poder360 (DF) – Poder360