Com mais de 200 mil seguidores no Instagram e outras dezenas de milhares de seguidores nas demais
redes sociais, Ana Laura Magalhães é uma das maiores influenciadoras digitais do País. Sócia da XP
Investimentos, ela dá vida e personalidade ao “Explica Ana” [@explicaana], canal de educação financeira
que ensina, de forma didática, como qualquer pessoa pode entrar nesse universo, que parece complexo,
dos investimentos.
Nascida em Uberlândia, Ana Laura é formada em Relações Internacionais e antes de entrar na XP
Investimentos, trabalhou com telemarketing, como vendedora em shopping e com crédito agrícola.
O “Explica Ana” nasceu de uma ideia da própria XP, onde Ana já trabalhava, e ela deu vida e
personalidade própria ao projeto. Longe de prometer ganhos rápidos ou o sonho de ficar milionário,
Ana mostra o caminho que o investidor deve percorrer e as perguntas que as pessoas devem se fazer
quando o assunto é aplicação.
“Acho que a população brasileira ainda não tem uma
educação financeira de base. Meu intuito é expandir esses
canais para diversas áreas, para chegar a todos os Estados,
criando conteúdos que sejam relevantes para todas as
pessoas”
,diz ela.
Eleita uma das mulheres jovens mais influentes do Brasil abaixo dos 30 anos no segmento mídia,
Ana afirma que o sucesso é fruto de dedicação 100% e estudo.
“Os brasileiros precisam aprender a investir melhor os rendimentos construídos com seu trabalho.
E o papel que a Ana Laura Magalhães desempenha é muito importante para levar informação de
forma consistente e acessível, abrindo o universo das aplicações financeiras para milhares de
pessoas”,
comenta o CEO da Rede Integração, Rogério Nery de Siqueira Silva.
Nesta entrevista, ela fala sobre sua trajetória, opina sobre o fato de as mulheres estarem ganhando espaço, mas ainda serem minoria nesse universo e, claro, explica como qualquer pessoa, mesmo com pouco capital, pode se tornar um investidor.
1 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Você tem um dos maiores canais de finanças do país, com centenas de milhares de seguidores entre Youtube, Instagram e Twitter, e é uma das mulheres jovens mais influentes no Brasil, abaixo dos 30 anos no segmento de mídia, de acordo com a revista Forbes. A que você atribui esse sucesso?
Ana Laura Magalhães – O sucesso vem de um processo de dedicação muito forte. E do entendimento de que o crescimento profissional está bastante atrelado à capacidade de adquirir conhecimento. O canal “Explica Ana” não foi uma ideia minha. Ele nasceu de uma demanda de um chefe. Mas percebi que tinha em mãos um projeto que poderia tocar com meu rosto e meu nome e que isso poderia ter reconhecimento em nível nacional. Diante do desafio, me desenvolvi para que o projeto tivesse características que fizessem sentido dentro de um aparato de comunicação e que também pudesse colocar em prática todo o conhecimento que tinha adquirido até ali. Na época, abri mão de uma carteira de R$ 400 milhões de ativos dos clientes para tocar um projeto de conteúdo. E esse sucesso com certeza veio do processo de dedicação, sem deixar de manter as características de mercado financeiro, de uma pessoa que trabalha muito e que se dedica 100% naquilo que faz.
2 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Você não começou sua carreira como analista ou educadora financeira. Você já contou em vídeos que foi atendente de telemarketing e trabalhou como vendedora no shopping. Na faculdade, você escolheu fazer Relações Internacionais e tinha um sonho de ser diplomata, trabalhar na ONU. O mestrado em Economia veio depois. Como você entrou na XP, da qual você é sócia atualmente, e como surgiu a ideia de falar de finanças para um público mais amplo?
Ana Laura Magalhães – Sim, meu primeiro emprego foi na área de telemarketing na cidade de Uberlândia. Foi o emprego que consegui na época. Tinha acabado de entrar na faculdade e de completar 18 anos, e me sentia na obrigação de ganhar o meu próprio dinheiro sem precisar depender dos meus pais. Depois, recebi a proposta de trabalhar em uma loja de shopping, na época do Natal, vendendo roupas femininas. Com esse dinheiro que ganhei, paguei um intercâmbio para a Croácia. Meus estudos na graduação foram mais voltados para políticas internacionais e meu mestrado foi por uma linha de pesquisa de economia política internacional. Comecei trabalhar na XP Investimentos porque a vida é cheia de coincidências. Quando estava no mestrado, estagiei em uma empresa que emitia crédito agrícola e quando abriu uma vaga na XP para trabalhar com o mercado de capitais, principalmente vinculado a crédito de agronegócio, vi que poderia ser uma oportunidade e uma porta de entrada para me mudar para São Paulo trabalhando nessa área. A ideia de falar de finanças para um público mais amplo surgiu de uma demanda dentro da XP. E o que fiz foi personalizar e levar de fato uma personalidade, criando o “Explica Ana”.
3 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Traduzir o ‘economês’ não é uma tarefa simples e a educação financeira, infelizmente, ainda não faz parte da cultura brasileira. Como surgiu seu interesse em mudar esse cenário e como você se educou financeiramente?
Ana Laura Magalhães – Foi basicamente no estudo e na prática. Lidar com o dinheiro de outra pessoa é muito sério. Quando comecei a trabalhar na XP Investimentos, percebi que não sabia tudo que precisava. Então, tirei todos os certificados, dos básicos aos mais elaborados. E continuei estudando, fazendo perguntas quando precisava de informações, seja porque não tinha conhecimento ou até prática no trabalho. Isso também me trouxe muito aprendizado intelectual. Aprendi a ter postura, a agir e ter um comportamento adequado em determinadas situações.
4 – Rogério Nery de Siqueira Silva – No seu canal, você diz que as pessoas precisam ter clareza sobre quais são os objetivos e devem fazer três perguntas antes de começar a investir. Quais são elas e por que são tão importantes? E qual é a dúvida mais frequente que as pessoas têm?
Ana Laura Magalhães – É verdade. Sempre faço essas três perguntas, porque elas são a base para que um iniciante consiga criar sua carteira de investimentos e dar os primeiros passos como um investidor. A primeira pergunta é: “o quanto você quer investir?”. Muita gente acha que precisa de muito dinheiro para dar o primeiro passo, mas hoje o mercado brasileiro já é bastante acessível. A pessoa só precisa saber o quanto ela está disposta a deixar de gastar para direcionar para um investimento. A segunda é: “quero investir por quanto tempo?”. Essa segunda pergunta é tão importante quanto a primeira, porque os ativos financeiros disponíveis no mercado têm vencimentos diferentes. As pessoas precisam saber qual é o prazo que elas pretendem deixar aquele dinheiro investido e saber que, durante aquele período, essa quantia não estará facilmente acessível. A não ser que se faça uma segregação de capital por meio de produtos que possam ser resgatados a qualquer momento, colocados de forma complementar em uma carteira de investimentos com investimentos mais longos. A terceira pergunta é sobre o perfil de investidor que a pessoa tem. A partir do momento que o investidor sabe o quanto ele quer investir e por quanto tempo ele quer deixar aquele dinheiro alocado, é preciso entender qual o nível de risco que ele tolera. E aqui entra uma estratégia de diversificação, que é super importante. A gente não coloca todo o dinheiro desse investidor em uma coisa só, mas divide em projetos específicos para que ele alcance os objetivos, que são diferentes em cada aplicação e prazo. Além dessas três perguntas básicas que toda a pessoa que quer investir tem que responder, as dúvidas mais frequentes que recebo são: “preciso de muito dinheiro para começar a investir?”; “se investir tudo no mercado financeiro, vou perder esse dinheiro?”; “quanto preciso investir para ter uma rentabilidade boa?”. São as perguntas que mais escuto.
5 – Rogério Nery de Siqueira Silva – É possível entender o vai e vem do mercado mesmo sendo um leigo? Tesouro direto, renda fixa, crédito privado, ações, fundos imobiliários. A assessoria de gestora de investimentos pode ser uma realidade para quem não disponha de um capital expressivo?
Ana Laura Magalhães – Sim, isso é possível. Isso acontece a partir do momento em que o investidor entende ao que ele está exposto. E isso depende da escolha dos ativos. Por exemplo: tesouro, renda fixa ou crédito privado – tudo isso é renda fixa. A diferença é quem emite. A volatilidade desses papéis será, portanto, resultado de variáveis atreladas não só à estratégia de remuneração desses papéis, mas também tem relação com os emissores. Já as ações terão volatilidade conforme as demandas, a oferta dos papéis negociados e, ainda, os fundamentos, que consistem em estudos que levam os investidores a terem vontade de adquirir ou não aqueles ativos. A mesma coisa com os fundos imobiliários: quais são os fundamentos atrelados à estrutura do edifício e da edificação, ou o perfil da dívida porventura existente naquele fundo imobiliário para que este seja estruturado. Uma pessoa muito leiga precisa primeiro responder aquelas três perguntas que mencionei acima e depois partir para uma etapa de aquisição de conhecimento. Existe um curso meu, gratuito, que se chama “Rota da Liberdade Financeira”. São quatro aulas online que dão uma noção básica de entendimento de investimentos. Na XP Investimentos, a assessoria exclusiva só acontece a partir de R$ 300 mil. Mas, a partir de R$ 50 mil, a pessoa consegue ter um atendimento online.
6 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Existem milhares de canais sobre educação financeira. Há inclusive quem dê dicas e prometa que, se a pessoa seguir determinados passos, pode ficar rica em um curto prazo. Em quem e em que conselhos acreditar quando se busca informação sobre finanças na internet?
Ana Laura Magalhães – Excelente essa pergunta! A gente fala que ter um canal de finanças hoje é muito comum, né? Mas também é muito comum encontrar pessoas com baixa índole na hora de falar sobre investimentos para leigos. Minha dica é: busque por conteúdos de pessoas renomadas, tituladas e vinculadas a instituições financeiras sérias. Para quem está buscando na internet, é importante ver quais são as fontes confiáveis dentro da sua área de interesse. E checar se essas pessoas estão agindo de forma a coagir a investir em determinados produtos para que aquilo traga benefícios para si ou para quem realmente é o interlocutor interessado nessa história.
7 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Uma pesquisa feita pela Bovespa em 2019 mostrou que aumentou o número de mulheres que investem, mas elas ainda são menos de 23% dos investidores. Um outro levantamento, da Forbes americana, indica que apenas 10% das posições em corretoras, por exemplo, são ocupadas por mulheres. Na sua opinião, por que as mulheres ainda não são vistas como um público interessado em investimentos? E por que ainda são minoria no mundo dos negócios? Esse é um ambiente ainda machista?
Ana Laura Magalhães – Na minha opinião, as mulheres ainda não são maioria no mundo dos investimentos – embora sejam uma maioria populacional no Brasil – por uma cultura que associa a mulher a uma imagem de que ela não é a pessoa que cuida dos negócios da família. É muito comum conversarmos com mulheres que respondem prontamente que o dinheiro delas está sendo investido pelo marido, pelo irmão ou pelo pai. Além disso, há mulheres que não têm o próprio dinheiro, sendo dependentes dos maridos, por exemplo. Em muitos aspectos, a gente ainda é minoria, como você mesmo disse na sua pergunta, em investimentos, negócios, cargos de liderança, seja no setor privado ou público. Mas estamos conquistando cada vez mais o nosso lugar. Se a gente olhar no retrovisor, para a quantidade de mulheres que investem hoje ou mulheres em posição de relevância, e comparar com o cenário de dez anos atrás, somos cada vez mais numerosas.
8 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Você nasceu em Uberlândia, se formou na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O que a vida em Minas te ensinou e que você leva como aprendizado até hoje? Do que tem saudade da sua terra natal?
Ana Laura Magalhães – Tenho muita saudade da minha terra natal! Minha família toda mora em Uberlândia: meus avós, minha mãe e meus irmãos. Tento ir no máximo em intervalos de até 45 dias. Eu estudei na UFU, tanto na graduação quanto mestrado. Eu não diria que trouxe um aprendizado da faculdade para São Paulo. Mas o que trouxe tem muita relação com o tipo de criação que tive – mais intimista, mais acolhedora e menos individualista, diferente do que acontece com mais frequência em cidades grandes.
9 – Rogério Nery de Siqueira Silva – A pandemia da covid-19 afetou também a economia e os mercados. Como foi esse momento para você? Que lições você vem aprendendo em meio a esse ‘novo normal’? O que você acha que vai voltar a ser como antes e o que vai mudar em definitivo?
Ana Laura Magalhães – De fato, a pandemia mexeu bastante com a economia. O mercado é afetado principalmente quando os investidores entram em um momento de incerteza e deslocam o próprio capital para investimentos que eles consideram mais seguros. O Brasil não é considerado um investimento extremamente seguro, nem para o investidor global. O investidor nacional, que tem 100% de capital no Brasil, também fica assustado em um momento de incerteza, que não envolve só as variáveis domésticas, mas também variáveis globais. Os investidores precisam ter uma noção de como se comportar em momentos de volatilidade e não se desesperar. Essa volatilidade pode afetar os investimentos. Mas, na maioria das vezes, quando passa todo o olho do furacão e a calmaria chega, a gente consegue enxergar de novo quais as características positivas dos papéis que compõem um portfólio de investimentos. Se a gente olhar, por exemplo, o Ibovespa de hoje e comparar com o Ibovespa do meio do ano de 2020, é possível perceber um processo de recuperação muito rápido. Acho que nada vai voltar a ser como antes dessa pandemia. Acredito que muita coisa vai mudar. Já há novos investidores, novos papéis entraram em circulação, novos IPOs aconteceram (processo de abertura de capital em Bolsa de companhias), empresas fazendo follow on, ou seja, colocando mais ações para serem negociadas no mercado brasileiro.
10 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Quais são seus projetos para 2021? Por fim, se você puder dar um conselho, que não seja de educação financeira, que conselho é esse?
Ana Laura Magalhães – Em 2021, quero potencializar os canais da “Explica Ana”. Acho que a população brasileira ainda não tem uma educação financeira de base. Meu intuito é expandir esses canais para diversas áreas, para chegar a todos os Estados, criando conteúdos que sejam relevantes para todas as pessoas, com diversas possibilidades de aplicação mínima, diversos capitais, diversos pontos de vista, e tudo isso dentro de um canal de educação financeira. Os canais não contêm minha opinião pessoal sobre o mercado. Eles são uma base de dados informativa sobre os investimentos que as pessoas podem começar a fazer a qualquer momento e mostram como se auto posicionar nesse universo. Se eu pudesse dar um conselho totalmente diferente, que não fosse voltado para educação financeira, seria: estude e aprenda a se diferenciar pelo conhecimento. Essa diferenciação, no longo prazo, é muito benéfica para a carreira e faz com que a gente seja bem sucedido em qualquer aspecto.