A Fundação Estudar tem números que impressionam. Sem fins lucrativos, a organização já
capacitou mais de 70 mil estudantes em seus programas e abriu as portas de renomadas
universidades do exterior, como Harvard, por exemplo, para mais de 1.000 estudantes
brasileiros.
Criada em 1991, a fundação tem a liderança da diretora-executiva Anamaíra Spaggiari.
Mineira de Lavras, formada em jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
Anamaíra descobriu na faculdade a importância do terceiro setor e viu a chance de trabalhar
em algo que pudesse mudar a vida das pessoas. “Desde os 17 anos, eu já sabia que queria
trabalhar com impacto social direto”, conta.
Com a pandemia da covid-19, a Fundação Estudar teve que se adaptar à realidade do ensino
totalmente online, mudando o formato dos cursos que antes eram presenciais.
O que poderia parecer uma dificuldade, na verdade, ampliou o alcance de muitos projetos.
“Tivemos que criar uma dinâmica baseada em debates, projetos, trabalho em equipe, que é
muito mais desafiador virtualmente. Em 2020, a gente chegou em jovens de mais de 3.600
cidades do Brasil, o que antes era ⅓ desse número”, diz.
Mas não foi só isso. Diante dos desafios impostos pelo coronavírus no País, a Fundação Estudar estimulou sua rede a pensar soluções para combater a doença. Os jovens talentos criaram projetos que vão desde a desburocratização da produção de álcool em gel até plataformas que possibilitam a conexão entre pessoas dispostas a ajudar quem estava no grupo de risco. E os portais da fundação também ajudam jovens a buscar uma nova oportunidade de emprego. “Temos dicas para processos seletivos, empresas com vagas abertas e artigos sobre produtividade, autoconhecimento”, diz.
Aos 31 anos, Anamaíra é uma “inquieta”, como muitos dos jovens que estão nos projetos da fundação. “Acho que o importante é nunca parar de aprender e, por ter conquistado tudo isso tão cedo, tenho vontades que aceleraram o meu desenvolvimento, mas também me exigiram um nível de responsabilidade e de aprimoramento”, conta.
Para o CEO do Grupo Integração, Rogério Nery de Siqueira Silva, a Fundação Estudar é uma referência de como a iniciativa privada pode deixar um legado para o País.
“O trio de empresários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles talvez sejam mais conhecidos pela criação da gigante de bebidas Ambev e por investimentos arrojados no exterior. Mas o que mais chama a atenção é a cultura forte que eles implementaram em todos os negócios, com destaque para a desenvolvimento de jovens com boas ideias e capacidade de execução”, afirma o CEO do Grupo Integração.
“A Fundação Estudar estruturou essa visão. E a Anamaíra é um exemplo desse alcance”,
completa Rogério Nery.
Nesta entrevista, a diretora-executiva detalha o trabalho da Fundação Estudar, fala sobre a importância da experiência de estudar no exterior e conta um pouco da sua relação com Minas Gerais. “Tenho muito orgulho do meu Estado, é um lugar onde valorizam muito as pessoas, a generosidade, as relações humanas e foi o lugar que me formou enquanto pessoa.”
1 – Rogério Nery de Siqueira Silva – A Fundação Estudar (estudar.org.br) é uma organização sem fins lucrativos que seleciona jovens de alto potencial e possibilita que eles estudem não só aqui no Brasil, mas também no exterior. Quais são os programas que a Fundação oferece e como os jovens podem participar?
Anamaíra Spaggiari – Na Fundação Estudar temos três pilares: o ‘Líderes Estudar’, que é um programa que seleciona, apoia, reúne e desenvolve jovens de alto potencial, com o oferecimento de bolsas de estudos e estímulos de uma comunidade que atua para transformar o mundo para melhor; o ‘Estudar Na Prática’, iniciativa que guia o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens inquietos, a partir de cursos, conteúdo digital e conferências de conexão com o mercado e o ‘Estudar Fora’, iniciativa que aproxima talentos do seu sonho de estudar em uma das melhores universidades do mundo, a partir de conteúdo digital e um preparatório especializado.
2 – Rogério Nery de Siqueira Silva – 2020 foi um ano marcado pela pandemia, que teve impacto em todos os setores da sociedade, especialmente na educação, com escolas e universidades sendo fechadas em todo o planeta e uma necessidade muito rápida de adaptação ao ensino à distância. O panorama em 2021 continua similar. Como alguém que trabalha com educação e formação de jovens, como você vem observando essas mudanças? Como a Fundação Estudar enfrentou esse cenário? E qual a sua opinião sobre a questão, polêmica, da volta (ou não) às aulas presenciais?
Anamaíra Spaggiari – A pandemia acelerou um processo de digitalização que já vinha acontecendo há bastante tempo, mas muitas empresas estavam atrasadas ou não davam o devido valor, e quando tudo foi fechado, as que tinham ensino à distância, saíram em vantagem. O ensino público é o que mais sofre, já a educação infantil nem se fala… Na educação superior e ensino privado as oportunidades se ampliaram bastante. Nós já tínhamos um portfólio online, e ainda assim, foi necessário adaptar rapidamente nossos cursos presenciais. Tivemos que criar uma dinâmica baseada em debates, projetos, trabalho em equipe, que é muito mais desafiador virtualmente. Em 2020, a gente chegou em jovens de mais de 3.600 cidades do Brasil, o que antes era ⅓ desse número. A nossa vantagem hoje é conseguir entregar a mesma qualidade para todos independentemente de onde a pessoa estiver. A tendência é tirarmos o melhor dos dois mundos, ir para uma metodologia híbrida onde remotamente conseguimos trazer os melhores professores, aprendendo no seu ritmo. Já no presencial, complementar esse conhecimento com muita experiência mais conectada, rica e pontual. Estou muito feliz que a Fundação Estudar conseguiu adaptar em semanas a nossa metodologia, mantendo a nossa relevância no país. Sobre a educação e aulas presenciais na rede pública, eu prefiro não opinar, pois na Fundação nós trabalhamos mais com educação complementar de jovens adultos.
3 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Como os jovens que participam dos programas da Fundação Estudar utilizaram o conhecimento que possuem e criaram projetos para amenizar a crise causada pelo coronavírus?
Anamaíra Spaggiari – A nossa rede de talentos – participantes do ‘Prep Estudar Fora’, ‘Líderes Estudar’ e voluntários da organização – desenvolveu uma série de iniciativas para auxiliar no combate ao coronavírus. Cada um em sua especialidade, os jovens têm atuado em iniciativas de alto impacto que amenizam os problemas causados pela pandemia, tanto na área da saúde, quanto na educação, em diferentes iniciativas do setor público e privado.
4 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Seria possível citar exemplos de ideias que surgiram e como os jovens podem ajudar a combater essa que é a maior crise de saúde de todos os tempos?
Anamaíra Spaggiari – Temos alguns exemplos, como o Projeto de Lei para desburocratizar a produção de álcool em gel, feito pela Líder Estudar Marcela Trópia, coordenadora política na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A partir de insumos da coordenadora e da comunidade de líderes, o Projeto de Lei (PL) 747/2020 foi protocolado pela deputada Adriana Ventura (Novo-SP). Outro projeto é uma plataforma digital para ajudar pessoas no grupo de risco, desenvolvido pelo Líder Estudar Luiz Valmont. O ‘Vizinho do Bem’ é uma plataforma criada emergencialmente para conectar (gratuitamente) pessoas que estejam dispostas a ajudar outras em situação de maior risco de exposição à covid-19, fazendo compras de supermercado, farmácia ou restaurantes para vizinhos idosos. E tivemos também um projeto de aplicação para determinar temperatura corporal rapidamente, pelo Prep. Marcos Schartz. A aplicação ‘Fevver’ atua em tempo real para dedução de temperatura corporal através de imagens. Ela começou a ser usada no Einstein no meio de abril para identificar de maneira rápida e escalável pacientes e funcionários com febre. Há outras iniciativas que podem ser vistas também no site https://www.napratica.org.br/covid-19-iniciativas-contra-a-crise-lideres-estudar .
5 – Rogério Nery de Siqueira Silva – O perfil dos jovens selecionados nos programas mostra pessoas que, além de uma vida escolar de excelência, são “inquietas”, como vocês mesmos classificam. Como acontece a seleção desses jovens e o que vocês levam em consideração? Quantos jovens já foram beneficiados?
Anamaíra Spaggiari – Muitos jovens já foram beneficiados pelos programas da Fundação Estudar. Em números, podemos dizer que mais de 700 líderes se formaram pelo Programa Líderes Estudar; mais de 70.000 alunos foram capacitados pelo ‘Cursos Na Prática da Fundação Estudar’; mais de 8.000 jovens se conectaram com grandes empresas do mercado nos nossos eventos. Vinte e cinco países além do Brasil já formaram profissionais brasileiros com apoio da Fundação Estudar e mais de 60 milhões leitores buscaram conhecimento nos portais de conteúdo ‘Na Prática’ e ‘Estudar Fora’. Além disso, mais de 1.000 estudantes foram aprovados para estudar em universidades do exterior.
6 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Você é formada em Jornalismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e desde a graduação está envolvida em projetos de desenvolvimento de lideranças. Como surgiu o interesse por esse tema e o que te levou para esse caminho? E quais são as suas lembranças de Minas Gerais?
Anamaíra Spaggiari – Desde os 17 anos, eu já sabia que queria trabalhar com impacto social direto, ingente e de uma forma escalável. É um propósito idealista que mostra muito da minha personalidade, e é por isso que eu escolhi fazer Jornalismo na UFJF. Eu também tinha passado em Administração na Universidade Federal de Lavras (UFLA), mas preferi a UFJF pela função social de um jornalista, de informar, educar e formar opinião dos brasileiros a nível nacional. Ao longo da faculdade, tive contato com outras formas de gerar impacto, principalmente através da Aiesec, que é a maior organização estudantil do mundo, que trabalha com desenvolvimento de liderança jovem através de intercâmbios. Lá percebi que poderia gerar outras formas de impacto, sem ser apenas pelo jornalismo. Foi quando conheci o terceiro setor, institutos e diversos projetos de impacto social. Fui percebendo que poderia alinhar o meu interesse e habilidade de gestão com várias iniciativas que o curso de comunicação social da UFJF me trouxe. E sobre lembranças de Minas Gerais, não são do passado porque Minas ainda faz parte do meu presente. Eu sou mineira, nasci em Lavras, morei no Sul de Minas. Quando fiz 18 anos, me mudei para Juiz de Fora para fazer a faculdade. Os primeiros 24 anos da minha vida foram totais de Minas Gerais. Tenho muito orgulho do meu Estado, é um lugar onde valorizam muito as pessoas, a generosidade, as relações humanas e foi o lugar que me formou enquanto pessoa.
7 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Você também teve a experiência de estudar no exterior, em instituições de prestígio como Harvard e Stanford. Como você chegou lá e o que estudar nesses locais mudou na sua vida?
Anamaíra Spaggiari – Durante a faculdade de comunicação social, também busquei algumas disciplinas da Psicologia e Administração, e elas complementaram o meu caminho e o que eu ia seguir de carreira, ou seja, uma líder de terceiro setor, numa organização de educação para jovens. A Fundação Estudar abriu minha visão e a oportunidade de que é possível e viável financeiramente estudar fora. Você pode ter a experiência de sala de aula com a metodologia incrível em que há muito debate em cima de opiniões críticas e embasadas. Com tudo isso, fiquei muito curiosa e então fiz um curso de Standford de liderança para terceiro setor de dez dias. Fui selecionada entre 40 líderes do mundo inteiro e foi incrível conhecer pessoas que estão buscando ser melhores a cada dia, tendo um impacto muito profundo. Acho que quando você vai para fora, para uma universidade de ponta, você amplia sua visão de mundo, conhece pessoas que vão te ensinar culturalmente de uma forma interessante e vai subir sua régua, entender outros países e saber como isso agrega ao Brasil. Em Harvard, fiz um curso online com metodologia em negócios, mas hoje estudo em um curso como se fosse um MBA para CEOs de empresas. Somos 160 pessoas na turma, sou a mais jovem, a única com fundação sem fins lucrativos e uma de 24 mulheres. É um privilégio para mim, sou apaixonada pelo curso, aprendo muito com as pessoas que estudam comigo. A experiência do debate é importante e é incrível ter professores que eram uma referência quando eu estava no Brasil. Tenho essa responsabilidade de levar esse conhecimento para o meu país também.
8 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Voltando à pandemia. O impacto no mercado de trabalho é significativo, inclusive para os jovens e para aqueles que estão buscando uma primeira oportunidade. A Fundação Estudar tem projetos voltados para empregabilidade? Com a Covid-19, o que mudou para eles nessa área e o que as empresas esperam dos jovens neste momento?
Anamaíra Spaggiari – Um dos portais da Fundação Estudar é o Estudar Na Prática, que tem como principal objetivo o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens inquietos, a partir de cursos, conteúdo digital e conferências de conexão com o mercado. No portal, publicamos sobre diversos assuntos, e um dos principais é empregabilidade, com dicas para processos seletivos, empresas com vagas abertas e artigos sobre produtividade, autoconhecimento, entre outros. Com a pandemia, mudamos todo o esquema, todos os cursos que até então eram presenciais, agora são virtuais. Com isso, o Brasil inteiro consegue realizá-los e focar no autodesenvolvimento para obter sucesso nos projetos profissionais e pessoais.
9 – Rogério Nery de Siqueira Silva – Quais são seus planos para 2021?
Anamaíra Spaggiari – Meu plano para 2021 é continuar desenvolvendo minha liderança. Tenho 31 anos, um time de 50 pessoas, mais de 1.200 voluntários em todo o Brasil, e uma organização bem relevante. Acho que o importante é nunca parar de aprender e, por ter conquistado tudo isso tão cedo, tenho vontades que aceleraram o meu desenvolvimento, mas também me exigiram um nível de responsabilidade e de aprimoramento. Minha capacidade de gestão, liderança e de visão para a organização no futuro é muito grande. É com bastante humildade que eu lidero a Fundação Estudar, tenho uma rede de mentores e gestores para crescer e ter o impacto cada vez mais relevante na vida dos jovens brasileiros.
10 – Rogério Nery de Siqueira Silva – E os planos da Fundação Estudar?
Anamaíra Spaggiari – A cada ano a Fundação Estudar cresce um pouco mais, com grandes desafios e um deles é: como dar mais oportunidades de desenvolvimento de liderança para jovens no Brasil? Nós estamos passando por uma revisão nos nossos cursos e em breve esperamos lançar novidades para nossos jovens universitários e para os jovens profissionais de até 35 anos, pensando em como eles podem se desenvolver no meio da empregabilidade.
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