Maior medalhista mulher brasileira em jogos Pan-americanos, a nadadora Larissa Oliveira é movida
a desafios.
Nascida em Juiz de Fora, mostrou paixão por água ainda bebê e chamava atenção de professores
na infância, dado o potencial dentro das piscinas.
Das competições em Minas, Larissa foi ganhando espaço no mundo do esporte, competindo por
clubes importantes e levando o Brasil aos pódios.
No Mundial de piscina curta, ela conquistou medalhas de ouro (4x50m medley) e bronze (4x50m livre)
em Doha-2014, e prata (4x50m medley), em Windsor-2016.
Nos Jogos Pan-Americanos, faturou dois bronzes e uma prata em Toronto-2015, e subiu ao pódio
sete vezes em Lima-2019, incluindo o ouro no revezamento 4x100m medley misto.
Detém ainda 13 recordes sul-americanos e acumula quatro ouros nos Jogos Sul-Americanos
de Santiago-2014.
Para chegar a esses resultados, Larissa treina muito. E, como todo atleta, tem de aprender a lidar
não só com as vitórias, mas também com as derrotas. “Eu nunca perco! Ou eu ganho ou eu aprendo”,
diz ela, como um mantra que carrega consigo.
Mas ela faz questão de ressaltar que não está sozinha nessas conquistas, e costuma dedicar
os resultados ao staff que a acompanha. E também à família, que continua vivendo em Juiz de Fora.
Depois de nove temporadas no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, Larissa começou 2021
com uma novidade: a assinatura de contrato com o Flamengo.
Agora morando no Rio de Janeiro, a atleta de 27 anos, 1,68m e 56 kg, está de olho em um novo
desafio: as Olimpíadas de Tóquio. Adiada por causa da pandemia, a competição deve acontecer
em julho e agosto. Se garantir sua vaga, a mineira participará pela segunda vez dos Jogos Olímpicos
após a experiência no Rio-2016.
“Larissa é um exemplo de determinação. É uma grande inspiração para crianças e jovens”, diz o CEO da Rede Integração, Rogério Nery.
Nessa entrevista, Larissa fala sobre os desafios da vida de uma atleta, destaca sua trajetória de superação e aborda até mesmo a questão do apoio às mulheres no mundo do esporte. E deixa uma lição de esperança sobre o legado que sua geração quer deixar.
1 – Rogério Nery Siqueira Silva – Sua família conta que praticamente desde bebê você já mostrava paixão pela água. Ainda criança, em Juiz de Fora, uma professora de natação percebeu seu potencial, dado que você ganhava várias competições na escola. Quando foi que você sentiu o interesse e manifestou vontade em participar de campeonatos? Você já sentia nessa época que poderia se tornar uma atleta?
Larissa Oliveira – Não me lembro exatamente quando esse desejo se manifestou, mas o amor pela natação realmente sempre esteve em mim. Me lembro, ainda criança, de ser recém-chegada na equipe do clube Bom Pastor [em Juiz de Fora] e haver uma competição no Tupynambás [Futebol Clube, também em Juiz de Fora]. Eu não tinha idade para participar, mas foi dada uma autorização mesmo assim, de tanto que insisti para poder competir.
2 – Rogério Nery Siqueira Silva – Você entrou para a história do esporte ao ser a maior medalhista mulher brasileira em jogos Pan-americanos (dez medalhas no total) e em Lima (2019) foi a primeira nadadora a conquistar sete medalhas em uma mesma edição. As pessoas te apelidaram carinhosamente de “Miss Pan”. Como foi a sua preparação para essa competição e qual o sentimento de uma conquista como essa?
Larissa Oliveira – Eu sempre me dedico 100% durante toda a temporada. E dou meu máximo seja no treino de água ou na parte física e cuido muito da alimentação e dos momentos de descanso. E para essa conquista não foi diferente. Mas jamais poderia imaginar que me tornaria a maior medalhista feminina brasileira em jogos Pan-americanos. Foi uma baita surpresa! O sentimento é de gratidão, felicidade e reconhecimento por toda minha dedicação aos treinamentos, que são árduos.
3 – Rogério Nery Siqueira Silva – As vitórias são o resultado de um trabalho intenso de treinos. E todo atleta enfrenta muitos desafios para se superar e precisa também aprender a lidar com as derrotas. Em 2015, no Pan-americano de Toronto, você chegou a ficar desapontada com seu desempenho e cogitou, inclusive, parar de competir. Você também competiu na Olimpíada no Rio, em 2016. Mas a história mudou em Lima. Quais os lados bom e ruim tanto da vitória quanto da derrota?
Larissa Oliveira – Tem uma frase que sempre digo para mim mesma, que é: “eu nunca perco! Ou eu ganho ou eu aprendo”. Acredito muito nisso. Acho que as derrotas, por mais dolorosas que sejam, ensinam. E é necessário aprender com elas e rever os erros.
4 – Rogério Nery Siqueira Silva – A natação pode até parecer um esporte individual, mas há muitas pessoas envolvidas na preparação de um atleta e você costuma dedicar suas vitórias a todas essas pessoas. Qual a importância dessa equipe? E como fazer para ampliar e melhorar esse suporte à natação brasileira, em especial às nadadoras brasileiras?
Larissa Oliveira – A natação é um dos esportes individuais mais coletivos que existe. Precisamos de uma equipe multidisciplinar (treinador, preparador físico, médica, psicóloga, nutricionista, entre outros). Por isso, nenhum resultado é construído sozinho. [Com relação ao suporte às nadadoras] Devido aos últimos resultados femininos em competições, com a criação do comitê feminino, e toda a repercussão que houve devido à falta de apoio às nadadoras, acredito que mudanças vão acontecer e que haverá mais equidade no suporte às atletas.
5 – Rogério Nery Siqueira Silva – A discussão sobre o assédio no mundo do esporte vem ganhando força nos últimos tempos, com a coragem de atletas que passaram a denunciar casos, como a nadadora Joanna Maranhão, por exemplo. Infelizmente, este não é um problema que está restrito a um esporte, país ou até mesmo a um gênero, dado que há casos de abuso contra homens também. Como você vê esse assunto? O que é preciso mudar para banir o assédio, inclusive moral, do mundo do esporte? É preciso que as instituições do esporte aperfeiçoem a governança?
Larissa Oliveira – Com certeza é necessário banir qualquer tipo de assédio do esporte. As instituições, confederações e comitês devem estar atentos e têm de reprimir qualquer atitude de assédio, banindo veementemente esse comportamento. Admiro todas as mulheres fortes que denunciaram o assédio e todos os outros atletas que tiveram forças para trazer o assunto à público. Eu não deveria ser uma exceção, uma privilegiada, e sim uma regra de nunca ter passado por situações como essas.
6 – Rogério Nery Siqueira Silva – Em 2017, você sofreu um grave acidente. Parte de uma árvore caiu no seu carro enquanto o trânsito estava parado na Marginal Pinheiros, em São Paulo. O galho perfurou sua coxa direita, você teve de passar por uma cirurgia e voltou a nadar somente dois meses depois. O que você lembra daquele momento? Logo depois do acidente, chegou a ter medo de ficar longe das piscinas? Como foi seu processo de recuperação, inclusive psicológica? Foi possível tirar algum aprendizado desse momento tão traumático?
Larissa Oliveira – Esse acidente foi um momento muito trágico da minha vida. Mas o que me possibilitou passar por isso e ter uma boa recuperação foram minha determinação e minha fé de que iria superar. Hoje, esse acidente faz parte da minha história de resiliência.
7 – Rogério Nery Siqueira Silva – Você já morou em São Paulo, agora está no Rio de Janeiro, mas sua família continua vivendo em Juiz de Fora e vocês têm uma relação próxima. Na casa da sua família, há um quarto onde vocês guardam as medalhas, os troféus, maiôs, toucas, entre outros objetos, tamanho o orgulho. Quando você volta para casa, o que gosta de fazer? Como fica a questão da saudade de Minas? E qual o sentimento a cada vez que você volta a entrar nesse quarto?
Larissa Oliveira – Hoje estou morando no Rio de Janeiro. Assinei contrato com o Flamengo na busca de realizar meu sonho de mais uma Olimpíada. A saudade de casa dói, mas para correr atrás de nossos sonhos é necessário abrir mão de muita coisa. Então, uso essa ausência como um “combustível”. Quando entro no quarto de medalhas, o sentimento que tenho é de renovação, ânimo. Nessas horas, olho para minha história e tenho mais força para ir além.
8 – Rogério Nery Siqueira Silva – 2020 foi um ano marcado pela covid-19 e o esporte foi uma área que sofreu muito os impactos da pandemia. Com a quarentena, muitos atletas tiveram que suspender treinos e permanecer isolados. Você conseguiu desenvolver alguma rotina para manter o físico? E como ficou o seu emocional?
Larissa Oliveira – Acho que, como qualquer um que passou por essa pandemia, meu emocional foi tomado por altos e baixos. Acredito que é normal, pois nunca passamos por isso antes! Mas sempre tento lidar com o problema da melhor maneira possível. Então, tentei ver o lado positivo, que era poder estar com minha família, voltar para casa depois de quase 10 anos, e me reaproximar de pessoas tão importantes e queridas na minha vida. No início, antes do adiamento dos Jogos Olímpicos, ainda mantive uma rotina, mas depois optei por relaxar por completo.
9 – Rogério Nery Siqueira Silva – Os Jogos Olímpicos de Tóquio, que deveriam ter acontecido em 2020 e foram adiados por causa da covid-19, estão previstos para acontecer em julho e agosto de 2021. Como você está se preparando? E quais são os protocolos de segurança, por causa do coronavírus, que você tem de seguir nos treinos?
Larissa Oliveira – A pandemia nos fez pensar em vários pontos! Agora, para ter melhores condições, me mudei para o Rio de Janeiro e treino no Flamengo. Lá, me é oferecido tudo que é necessário para minha preparação, desde instalações até o suporte. Os protocolos são rígidos, com uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social.
10 – Rogério Nery Siqueira Silva – Como você avalia o atual momento da natação feminina brasileira? Qual o legado que a sua geração de nadadoras vai deixar para quem está chegando?
Larissa Oliveira – Avalio de forma positiva. Estamos em uma crescente e acredito que ainda temos muito o que mostrar de resultado. O legado que vamos deixar, além de uma maior atenção e suporte que estamos conseguindo ter, é a lição de que, para conquistar qualquer coisa, é preciso acreditar e lutar.